sábado, 17 de novembro de 2012

A Pedra Filosofal

Eles não querem que o sono
é uma constante da vida
tão concreta e definida.
Como outra coisa qualquer,
como esta pedra branca,
em que me deito e durmo,
como este ribeiro pequeno
em que vejo os peixes,
como estes pinheiros altos
que em verde e oiro se agitam,
em bebedeiras em azul.

Eles não querem que o sono
é vinho, é espuma, em fermento,
bichinho álacre e amarelo,
de forma pontiagudo,
que fossa através de tudo
num perpétuo movimento.

Eles não querem que o sono
é tela, é cor, é tinta,
base, fuste, capitel,
arco em ogiva, vitral,
pináculo de catedral,
contraponto, sintonia,
máscara grega, magia,
que é retorta de alquimista,
mapa do mundo distante,
rosa dos ventos, Infante,
caravela quinhentista,
que é Cabo da Boa Esperança,
ouro, canela, marfim,
florete de espadachim,
bastidor, saltos de música,
Colombina e Arlequim,
águia voadora,
para-raios, locomotiva,
barco de proa festiva,
alto-forno, geradora,
célula do átomo, radar,
música, televisão,
desembarque em foguetão
na terra lunar.

Eles não querem, nem dormem,
que o sono comanda a vida.
Que mesmo que um homem durma
o mundo pula e gira
como bola colorida
entre as mãos de uma pessoa.

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